Essa luz acometida por vez plissada
e voz malandra acerta a centelha de memória póstuma que me carrega por uma vila
chinesa de belos e falsos enfados. Mais uma conversa
de botas batidas com cacos espalhados pelo verniz acobreado e uniforme do
piso, estendendo o assunto interminável por pontos de encalço e variações
repentinas. Apenas divagos de monotonia rala e aquarelada, conservas e
empacotados trazidos de diversos lugares do mundo. Esta selva, que insisto em
organizar alfabeticamente em minhas estantes sanguíneas, ergue-se vez ou outra
para adorno alheio, deslizando os rubros deleites em pálido calibre estatual. A
arma que porta entre os dentes, acirram gestos que, a grosso modo, entorpecem.
Se descrevo os meus grilhões, convencer-me-á
de que liberdade maior não encontrarei, compreendo, então, que devo voar rumo á
minha própria clausura. Presa na imprensa que refaz os caminhos do vento, marca
as lonjuras, e enche o grito com ferocidade, afirmando aos montes o lugar.
Quero me prender á isto. Prender-me aos vastos caminhos de Atlântida, aos
tecidos de Andrômeda, á monarquia imaginária do meu próprio aval. Prender-me á
textura das nuvens flácidas... ao desfazer das coisas.
Se há necessidade em fagocitar o
ermo num cotidiano ardente e intransigente, purgo com as acácias que
historicizo diariamente, o fluxo-floema da poeta que mistifica o in e o novelo.
Estas criaturas-novelo que vivem a
enrolar-se e embolar os fios em construção, há de se ter paciência quando a
linha quebra. Vivemos nos atados dos bordados, sem saber ao certo o resultado,
e no surto imoral de desfazer o ponto errado é que se percebe a originalidade
do traçado. Errado o ponto, rompido o modelo.
E estes ruídos claros e impávidos?
Que são?
Borboletear daquilo que lhe apetece,
escorre a flama fugaz das raízes silvas, dos mares Ágade, de quem pleiteia
intrépida paz. As almas rastejam pelas ruas vagas, há trevas no raio cego das
luzes. Certeza que avexa a curva láctea, incerteza que aparta o real. Esse nome
envaidecido e essa trégua estão a me enlouquecer.
Sentada á luz da fumaça, o assopre
das vísceras de um cigarro que parte de mim, um prolongamento que os
ministérios insistem em advertir, uma memória infundada, a não ser por aquele
clássico que dignifica várias estantes... “A ética protestante e o espírito do
capitalismo”. Nunca li. Mas a ética do protesto sempre circula por estes
arredores.
Este gás enobrecedor que repiras, tão
solenemente, em tragos fundos, aviva-me o peito. Não contenta e indecente, sigo
sem hora para o fim.
Mas que é o fim de um acabado, oras?
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