sexta-feira, 3 de maio de 2013

II. Largo





"Mas a chama incurável é pra extirpar côa espada,
Para que não constranja a parte intacta.”
Ovídio


Não vejo o sorriso sinuoso, tampouco, o brilho felpudo dos olhos e lábios dele. Pensas que te abandonei? Achas que abandonaria?
Eu tentei.
Dia, tarde e noite foram uma só, lágrimas negras. Eu vivi anos, em horas.
Naufraguei no insano, apunhalei meu ego torto, um matiz, a ferida rígida da minha má formação.
Como poderia escapar de mim, se o que quero é ele?
Meus cabelos serpentes, minha aparência, meu corpo, entranhas, insano.
Pedra.
Tu serás Pedra!
Diáfano, profano, maculamos o templo da Deusa, eu – ele. Maldição.
Há dias que estou faminta, outros, estou sedenta.
Então, não me venhas dizer que fui embora.
Meu corpo ainda queima, sem dó. Meus olhos ainda faíscam na espera.
A ânsia do seu fogo à escalar minhas vértebras, com tal selvageria, doçura, fluídos e sutilezas, tudo isso ainda me cega.
Não importa em que porto estás, marinheiro; se preciso for, faço-me sereia e vou buscá-lo.
Tenho Vênus em Áries, e sabes bem qual a minha natureza.

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