sábado, 13 de abril de 2013

Vênus em peles




Sou Bento.

Uma anomalia machadiana que usurpou a lógica do tempo e corporificou-se em um cerne feminino. Sou Casmurro, uma fêmea Casmurro.
Padeço da patologia que se atirou sobre o pescoço de Bento no início do século passado, destronando a sanidade e consumando amor ao câncer, extenso e melancólico, que alastrara sobre o seu universo Capitu.

Capitu.

Guiada por instintos vis, de fogo e falo, atento para Capitu fora do corpo.     
Percebam que este nome, símbolo de loucura, traz certa androginia. Não se deixe enganar pelos olhos de ressaca, não é só mulher. Transcende.
Capitu é sentimento, é perdição, diz respeito á inominabilidade. Capitu é patologia, é obsessão, amor ao verme que ainda jaz a comer tuas carnes vivas e quentes.
Não é corpo, não é mulher.
Capitu é tudo o que desatina no peito, que tira os trilhos, os arreios.
Faz do falo, faca. Crava-lhe o corpo, estilhaça e estripa.
O receptáculo vira planta carnívora, cova abissal, areia movediça. Engolidora de almas e fluídos.

É Deusa, é demônio.

É tempestade no peito e fogo no olhar.
É vontade de engolir, rasgar-se ao pó.
Meu Capitu é meu ciúme. É olhar nos olhos de outrem e enfiar, pelos buracos mais imundos, a minha obsessão; tornando-o meu contra sua vontade.

Sou Bento á estuprar Capitu.


  

Nenhum comentário:

Postar um comentário