Tereza abria os
olhos para ver as cores da avenida, andava meio entorpecida pela cidade
pensando em tramas tecidas cotidianamente entre os seres transeuntes. As imagens
projetadas revelavam-se perante as ondas luminosas. Um espetáculo que todos
viam em cada milésimo de segundo humano, mas, que por algum motivo ninguém
atentava para... Só ela. Tereza, com toda destreza, sacudia a poeira do
dia-a-dia e seguia, sem medo, sem dó, sem virtudes ou moral.
Dera mais alguns
passos, contornando a banca de jornais. Até pensou em dar uma olhada, com minúcia ou investigação, nas letras impressas, mas, a curiosidade casual havia
cessado por algumas horas. A vida, o comum, o cotidiano, sempre inerente aos
passos, ao estralo dos ponteiros em movimento. Tereza entregou-se a mesa de um
bar minutos depois. Desinteressada, perguntou-se debilmente porque sentara ali.
Contudo, resolveu observar o comportamento daqueles que compartilhavam com ela
o tempo e o espaço. Tereza pegou uma caneta e desenhou no guardanapo a síntese explicativa da dinâmica naquele bar. Fez algumas anotações, e, rabiscando duas
setas inversas deduziu que havia para alguns a necessidade expansão, de
libertação ou auto-afirmação, ao passo que, para outros o movimento inverso
indicava necessidade de se mesclar ao meio, pois, hipoteticamente o eu já era imenso demais. Tereza
devaneia.
Tereza acende um
cigarro.
Tereza pensa em putaria...
Tereza sempre pensa em putaria.
Vivera sempre em
paralelo o deslumbre da margem, e toda a circularidade dos meios rubros. A
esfera de tormento das instituições, a dormência, o fogo, o gelo, o reverso
proibido das práticas. A retração e expansão dos presentes começaram a
ritmar-se. Harmoniosamente, os olhares se cruzam e inebriadamente vão se
despindo. As mesas, agora, inexistem. Assim como o chão, as janelas, os
degraus. Tereza apenas observa. Os corpos movem-se serpenteadamente. Corte.
Duas mulheres
deslizam sobre seus respectivos corpos. Tereza concentra-se. Os corpos
aparentam cor cinza, e vê-se apenas a sombra em movimento. Pernas, braços e línguas rangem. Dois homens corpulentos e largos se juntam a elas. Entre elas.
Enlace.
Organizam-se. Duas
outras mulheres, de cabelos bem negros, se inserem. Duas bocas e um pau. Tereza
reza. Dois paus em uma buceta. Tereza presa. Duas línguas, uma buceta. Tereza
surpresa. Tereza pisca. Tereza retorna.
Tereza respira.
Tereza sorri,
inocente.
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