sábado, 28 de setembro de 2013

Melancolias de Tereza


Tereza abria os olhos para ver as cores da avenida, andava meio entorpecida pela cidade pensando em tramas tecidas cotidianamente entre os seres transeuntes.  As imagens projetadas revelavam-se perante as ondas luminosas. Um espetáculo que todos viam em cada milésimo de segundo humano, mas, que por algum motivo ninguém atentava para... Só ela. Tereza, com toda destreza, sacudia a poeira do dia-a-dia e seguia, sem medo, sem dó, sem virtudes ou moral.
Dera mais alguns passos, contornando a banca de jornais. Até pensou em dar uma olhada, com minúcia ou investigação, nas letras impressas, mas, a curiosidade casual havia cessado por algumas horas. A vida, o comum, o cotidiano, sempre inerente aos passos, ao estralo dos ponteiros em movimento. Tereza entregou-se a mesa de um bar minutos depois. Desinteressada, perguntou-se debilmente porque sentara ali. Contudo, resolveu observar o comportamento daqueles que compartilhavam com ela o tempo e o espaço. Tereza pegou uma caneta e desenhou no guardanapo a síntese explicativa da dinâmica naquele bar. Fez algumas anotações, e, rabiscando duas setas inversas deduziu que havia para alguns a necessidade expansão, de libertação ou auto-afirmação, ao passo que, para outros o movimento inverso indicava necessidade de se mesclar ao meio, pois, hipoteticamente o eu já era imenso demais. Tereza devaneia.
Tereza acende um cigarro.
Tereza pensa em putaria... Tereza sempre pensa em putaria.
Vivera sempre em paralelo o deslumbre da margem, e toda a circularidade dos meios rubros. A esfera de tormento das instituições, a dormência, o fogo, o gelo, o reverso proibido das práticas. A retração e expansão dos presentes começaram a ritmar-se. Harmoniosamente, os olhares se cruzam e inebriadamente vão se despindo. As mesas, agora, inexistem. Assim como o chão, as janelas, os degraus. Tereza apenas observa. Os corpos movem-se serpenteadamente. Corte.
Duas mulheres deslizam sobre seus respectivos corpos. Tereza concentra-se. Os corpos aparentam cor cinza, e vê-se apenas a sombra em movimento. Pernas, braços e línguas rangem. Dois homens corpulentos e largos se juntam a elas. Entre elas. Enlace.
Organizam-se. Duas outras mulheres, de cabelos bem negros, se inserem. Duas bocas e um pau. Tereza reza. Dois paus em uma buceta. Tereza presa. Duas línguas, uma buceta. Tereza surpresa. Tereza pisca. Tereza retorna.
Tereza respira.
Tereza sorri, inocente.




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