sexta-feira, 24 de maio de 2013

Letargia de um amor perene



Com o linho dourado da minha fossa andarei pelas ruas que disseste tua.
Se não sabe, meu sangue é ar.
Minha dor é dormência, meu amor é vastidão.
Por acaso brincaste com minha mágoa? Fizeste livre a minha incongruência?
Olhas tu, repare bem.
Meus olhos são teus. É a tua língua que sente o meu amargo.
É no teu âmago que minha dor grita.
Vê?! Abra os olhos. Pisque. Encare tua esquerda.

*

Com o linho dourado da minha fossa andarei pelas ruas que disseste tua.
Não recusarei a calma, não mais. Rasgarei, com as unhas de minha urgência, os tecidos mnêmicos do que fomos. Este pano de fundo irrisório ainda inflama meus alvéolos de tanto respirar a poeira do sótão, revirando as gavetas passadas. Revivendo o que não foi, sendo o que não fui. Como ousas jogar cartas embaralhadas na face de minhas cores?

*

Com o linho dourado da minha fossa andarei pelas ruas que disseste tua.
Lamúrias acometidas e mágoas comportadas, as linhas na testa são chagas da indiferença.
Não me venha com pecados pagos, meu sangue sempre corre no quinto dia útil.
Sem linho, sem rua, sem tua.

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