sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Pálida Ausência (1968)




Meu Deus, como os olhos de Maysa podem ser sérios e como a boca de Maysa pode ser amarga! [...]
Maysa não é um corpo
Maysa são dois olhos e uma boca

M. Bandeira


Caiu-se um mundo.
Falava demais.
Fumava demais.
Vivia demais.
Era sempre mais, nunca menos.

Maysa, cujos olhos amarguraram vidas, levantavam as almas, acolhiam palmas e rogavam pragas. 
A imperatividade daqueles olhos era incontestável, a amargura, amarga e cortante escolhia-lhe pela boca como veneno.
Não interessava o corpo, não era corpo. Não pertencia.

Naquela banheira, o calor batia-lhe as portas do estômago. Desesperador e sufocante, as lembranças de uma vida explodiram-lhe o olhar. Dor. Era disso que aqueles vermes se alimentavam. 
Da dor, sua dor. A velha companheira dos drinks convidativos da madrugada.
Vira os olhos verdes brilharem na superfície da lâmina, e sentira o veloz gosto do corte.
 Um grito rasgara-lhe a garganta, saindo involuntário.
 Ne me quitte pas.
O sangue caía, vermelho, bonito, vivo ... E nada mais.
“Vocês vieram saber se eu morri?”

Cabelos desgrenhados, postura felina, e olhos humilhantes. Lá estava ela, de frente ao microfone, em cima do palco. Mostrando a todos como era imponente, como era viva!
Fuzilando, amando, vivendo. Nada mais interessava. Era Maysa. Fora Matarazzo mas voltara Monjardim. Maysa Monjardim.

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